terça-feira, 31 de março de 2009

Saudade I. E permitam-me divagar.

Abril. Início da primavera no hemisfério norte, onde as flores brotarão, desabroxarão e verbalizaremos tanta esperança nessas metáforas veladas do dia-a-dia. O outono levará da Europa a brancura pseudo-imaculada da neve e o frio gostoso de se sentir graças à calefação. Para o hemisfério sul, uma pausa no calor desenfreado e calejante.

Parto para brotar meus grãos brasileiros na tímida primavera russa. Levarei postais do Rio de Janeiro, da praia de Geribá em Búzios, do centro de São Paulo e, claro, de umas aspirantes a atrações juizforanas. E a pinga de Mar de Espanha cuja importação Mutuca se eriçou em patentear. Dvd's do que creio não ser o que se ouve com facilidade sobre o rock brasilista. Livros com as lendas da Amazônia, bronzes cariocas e fumaça paulista, além de receitas temperadas e bem humoradas dos nossos nordeste, sudeste e sul. Levo também meu wayfare azul, Alfiya (uma das minhas buddies) quer emprestado para pelo menos uma foto. Eu prometi me render aos seus lenços - diz ela que é questão de saber dar o nó.

Falando em Rússia, já se sabe que lá é primavera. Com seus altíssimos cinco graus po-si-ti-vos, seu troco a minha chorosa família, que amarga minha ilustre ausência, é, pois, o outono. (Tentei deixar clara a inversão de papéis das estações.) E no outono, as folhas caem. Para novas vidas surgirem.

Eu insisto em interpretar essa fase como o outono brasileiro e a primavera russa. Não tiram isso da minha cabeça por nada. Então tentarei enfiar essa ideia (a única nova regra ortográfica que sei até agora) na cabeça dos corações mais saudosos.

Quero que minha ida à primavera russa seja demorada e excitante como esperar uma orquídea que nunca se vê brotar. E que durante esse outono no Brasil, ao olharem as folhas caindo das árvores, vocês sintam a efemeridade da vida e acreditem que tão rápido como a folha atingiu o chão eu voltarei.

E quando eu voltar, ao passo que a folha seca atinge o chão, uma nova configuração estará instalada. Um Vico revigorado, certamente reafirmando o amor que une sua família e gastando o estoque de lágrimas - mas deixando um pouco para setembro, no Encontro dos Brunner & Lopes. O Vico que voltar da Rússia, espera-se, terá conhecido lugares, pessoas e culturas que trazem, além do contato com a diversidade, a responsabilidade de multiplicá-las (bem como o sábio traquejo diante delas) por cá.

O Vico que vai quer que a primavera russa seja gostosa como as 22 brasileiras que já viveu. E o Vico que voltar quer que a primavera brasilera supere as realizações que ele foi buscar nas terras do Medmedev.

E o Vico também vai tentar contar história do verão em Paris. Torçam para que essa empreitada renda pelo menos boas fotos!


(Muito sono simultâneo à insônia decorrente da ansiedade que traz pensar que daqui algumas horas estarei no Charles de Gaulle, depois em Sheremetyevo e finalmente em Ufa. Perdoem os erros, mas não deixem de apontá-los. Obrigado!)

Choque Cultural II

Chegar à embaixada mais impressionou pelo itinerário do ônibus que pela arquitetura nada pomposa dos russos em terras brasilis. Uma paredona preta dá o ar fechado dos seus integrantes, que se encontravam todos protegidos contra os macacos vândalos por trás de um grosso vidro. Mas não foram antipático a rigor. Saldo: não tenho do que reclamar.



Mas tenho observações merecidamente registráveis. Sabe quando você junta toda a sua força corporal e foca no movimento que mais representa a indiferenca? Isso mesmo, mover levemente sua sobrancelha (uma só) para cima. A senhora, aproximando-se da casa dos 60, creio eu (já levando em consideração tudo que aprendi sobre plástica com a Cher), se expressou raramente assim: movendo sua sobrancelha (esquerda, sempre) para cima.

Deve ter se achado muito simpática. A despedida:
Ela (pois é, nem um craxá para contar história) me entregou o passaporte fechadinho.
Abri, vi o visto.
Depois do gozo interno devidamente contido: "Tudo certo?"
Sobrancelhas ao seu norte: "Sim, boa viagem."

terça-feira, 17 de março de 2009

Aula da Saudade

Texto que escrevi para a primeira comemoração da nossa formatura na UFJF:

Quando foi sugerido que eu escrevesse algo sobre o nosso curso, pensei no perigo da minha homilia ficar desmedida. Porque é difícil controlar a paixão que eu sinto pela carreira que escolhi seguir. Mas, sem alongar muito, tento poetizar esse momento para que ele se torne menos fugaz.

Durante essa semana, muitas lágrimas de alegria vão rolar. Tentemos interpretá-las como o suor do fim de uma batalha que vencemos contra nossos defeitos, em que superamos nossas preguiças e surpreendemos aqueles que nos suportaram. Essas lágrimas são a prova de que, quem ri por último, ri melhor. Foi-se o estoque de lágrimas tristes. E quando as alegres tocarem o chão, depois de rolarem bochecha e queixo abaixo, serão as nossas primeiras sementes de uma vida que torço para ter o sucesso que merecemos.

Há quatro anos sonhávamos com o dia em que seríamos gramáticos, profundos conhecedores de cada regra que rege a famigerada norma culta. Igualmente queríamos ter gabarito para falar de livros cujos autores certamente poucas pessoas conheceriam. Sorte nossa esses sonhos não terem se tornado realidade.

Foi-se o tempo em que estudar literatura era ler trezentas páginas, fichá-las para, feita a prova, jogá-las fora. Foram-se junto, os momentos em que esquecemos dos sentidos das palavras para pensar em como transcrevê-las foneticamente. E veio o tempo de luz, quando entendemos a importância da fonologia ao estudar os eixos paradigmáticos e sintagmáticos no processo que fez Latim ser rebatizado de Português noutras terras. E aprendemos quão útil é entender os recursos de um autor em sua obra literária, bem como usá-los a nosso favor. Assim, enfim, chegou o tempo de entendimento do homem. Como se tivessem acendido uma luz em nossas mentes. Não com o pressionar de um botão, mas com muita caça a lenha e fogo.

E a vida sempre testará nossas capacidades de autodidatismo, pró-atividade, resistência às mudanças, ao diferente, dificuldade de lidar com aqueles que sabem menos ou mais que a gente. Nossa relação com nossos alunos será assim. Pensar no repensar é o meu pedido ao nosso futuro. Que nós sejamos capazes de lançar mão do conhecimento que adquirimos nesses recentes quatro anos para o bem. Para fazer daqueles que nos procuram, pessoas melhores, bem preparadas e dispostas a terem um impacto positivo nas vidas de quem quer que encontrem.

Melhor do que saber como o homem funciona é saber funcionar junto aos homens. Usar a faca e o queijo que ganhamos nos estudos acadêmicos para fazer da nossa vida um momento de felicidade.

Muitas vezes demos o nosso melhor e não fomos reconhecidos. Mas às vezes em que, mesmo dando menos do que podíamos, fomos bem guiados a um melhor desempenho, foram as mais preciosas e mais memoráveis passagens de nossa vida na graduação do curso de Letras.

O Professor Mário Roberto Lubuglio Zágari elogiou. Preciso mais nada!

sexta-feira, 6 de março de 2009

What's it all about, Alfie?

Última terça-feira, passávamos em frente um a cartaz da AIESEC, eu e dois amigos quando um deles soltou: "Vico, explica direito o que é isso porque até hoje não entendi". Eu jurava já ter exaurido o tema. Avisei do perigo que era ter me feito tal pedido, e dei início à homilia. Ainda assim, não dormi pensando que a propaganda poderia ter sido mais bem feita.



Por mais que o setor de marketing se esforce para ser bastante informativo, todos que entram no http://www.aiesecjf.org/, site em que ficam hospedadas abrangentes informações sobre a organização, entendem quase nada. Parcela menor ainda mal se dá conta do quanto é possível lucrar entrando para a AIESEC. Aí você, que na humildade do ostracismo me lê, pensará: "o Vico acha que vai conseguir ser melhor que o time de marketing de uma associação internacional de estudantes, presente em mais de cem países em todo o mundo, cujas estratégias de branding são constantemente revisadas?" Eu, que num momento de extrema ansiedade registro aqui o que sinto, deixo claro que daria um ótimo membro do time de marketing se não fosse um intercambista muito melhor. (E aposto que quem lê achou que eu pediria arrego.)

Só depois que os novos selecionados partirem para o famigerado DD (Discovery Days) e passados os dois dias de imersão lecture-after-lecture, é que entenderão o que é AEISEC e porque fazer parte dela é tão interessante e promissor. Durante o DD encantam-se os novatos, falando-se com eloquência (trema, que perda inestimável...) sobre a Era Paleozóica da organização. A beleza dos ideais de paz no mundo através do entendimento entre povos e suas culturas amolece o coração até dos mais ortodoxos. Dia afora, noite adentro, com muita melancia atômica, vão surgindo amizades, mesmo que o interesse maior seja networking.



Mas não acho que o texto ainda esteja bom. Prefiro escrever mais depois. Enquanto isso, não deixem pra depois: inscrições abertas para o processo seletivo 2009 para novos membros para a AIESEC Juiz de Fora: http://www.aiesecjf.org/