Parto para brotar meus grãos brasileiros na tímida primavera russa. Levarei postais do Rio de Janeiro, da praia de Geribá em Búzios, do centro de São Paulo e, claro, de umas aspirantes a atrações juizforanas. E a pinga de Mar de Espanha cuja importação Mutuca se eriçou em patentear. Dvd's do que creio não ser o que se ouve com facilidade sobre o rock brasilista. Livros com as lendas da Amazônia, bronzes cariocas e fumaça paulista, além de receitas temperadas e bem humoradas dos nossos nordeste, sudeste e sul. Levo também meu wayfare azul, Alfiya (uma das minhas buddies) quer emprestado para pelo menos uma foto. Eu prometi me render aos seus lenços - diz ela que é questão de saber dar o nó.
Falando em Rússia, já se sabe que lá é primavera. Com seus altíssimos cinco graus po-si-ti-vos, seu troco a minha chorosa família, que amarga minha ilustre ausência, é, pois, o outono. (Tentei deixar clara a inversão de papéis das estações.) E no outono, as folhas caem. Para novas vidas surgirem.
Eu insisto em interpretar essa fase como o outono brasileiro e a primavera russa. Não tiram isso da minha cabeça por nada. Então tentarei enfiar essa ideia (a única nova regra ortográfica que sei até agora) na cabeça dos corações mais saudosos.
Quero que minha ida à primavera russa seja demorada e excitante como esperar uma orquídea que nunca se vê brotar. E que durante esse outono no Brasil, ao olharem as folhas caindo das árvores, vocês sintam a efemeridade da vida e acreditem que tão rápido como a folha atingiu o chão eu voltarei.
E quando eu voltar, ao passo que a folha seca atinge o chão, uma nova configuração estará instalada. Um Vico revigorado, certamente reafirmando o amor que une sua família e gastando o estoque de lágrimas - mas deixando um pouco para setembro, no Encontro dos Brunner & Lopes. O Vico que voltar da Rússia, espera-se, terá conhecido lugares, pessoas e culturas que trazem, além do contato com a diversidade, a responsabilidade de multiplicá-las (bem como o sábio traquejo diante delas) por cá.
O Vico que vai quer que a primavera russa seja gostosa como as 22 brasileiras que já viveu. E o Vico que voltar quer que a primavera brasilera supere as realizações que ele foi buscar nas terras do Medmedev.
E o Vico também vai tentar contar história do verão em Paris. Torçam para que essa empreitada renda pelo menos boas fotos!
(Muito sono simultâneo à insônia decorrente da ansiedade que traz pensar que daqui algumas horas estarei no Charles de Gaulle, depois em Sheremetyevo e finalmente em Ufa. Perdoem os erros, mas não deixem de apontá-los. Obrigado!)